segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Depoimento sobre o filme :Pra Frente Brasil"


Descrição do cartaz: Dois homens de terno e gravata conversam com uma mulher (Reginaldo Faria, Antonio Fagundes e Natália do Valle).

Oi pessoal!
Segue um lindo depoimento sobre um sessão de cinema com audiodescrição, produzida pela Iguale Comunicação de Acessibilidade. O roteiro e a narraçåo såo meus!

Jovens, adultos, pessoas idosas. Cerca de quarenta pessoas cegas reuniram-se na tarde de hoje, na porta do Cine Banguê, para assistirem ao filme Pra Frente Brasil com o recurso da Audiodescrição.

Receberam seus fones, fizeram piadas, muito à vontade porque estavam mesmo numa sessão especial, junto com seus acompanhantes ou sozinhos.

O filme começou, e começou também aquele falatório inicial, com todo mundo ajustando seus fones, ajustando sua compreensão para a linguagem do filme propriamente dita e o processo da audiodescrição. Depois a sala aquietou-se, rendida à força do enredo, todo mundo rindo na hora que a cena pedia, todo mundo ficando chocado na hora em que as cenas cruéis se desenrolavam, como naquela em que o torturador, depois da sessão, lava as mãos ensanguentadas e atira a toalha a esmo e sai.

Para alguns, era aquela a primeira vez em que entravam numa sala de cinema, e, diga-se a verdade, uma primeira vez premiada, Para outros, um momento de plena compreensão, por vias ficcionais, da crueza do regime militar, nos seus anos de ferro, época em que, muitos dos da nossa geração, estavam em escolas especiais, engrossando o coro dos que cantavam "Eu te amo, meu Brasil, eu te amo"…

Ao lado da minha irmã, vi a hora em que o seu fone parou de funcionar, e ela, em desespero, colou o seu ouvido esquerdo no meu próprio fone.

O que é a audiodescrição? A bússola, o guia, o link que nos revela os silêncios, as cenas que engendram todo um discurso, toda uma trama, sem qualquer palavrinha.

Audiodescrição,destravando, aclarando, ajustando o texto aos acontecimentos visuais e o resto, o resto deixa com a gente, porque a gente vai compreender.

Foi um espetáculo. Uma coisa muito boa, e eu teria muitos outros começos para esse relato. aliás, eu poderia perguntar, quando será que não serão mais necessários relatos sobre sessões com ad, quando será que a Ad se tornará algo tão natural como o ato de alguém ir ao cinema, comprar seu bilhete e usufruir do filme com acessibilidade e inclusão?

Quando será que uma pessoa cega sairá do cinema pensando somente na estrela principal do filme? nesse, e não duvido que em outros, todo mundo saiu do cinema com uma única estrela na cabeça: A Audiodescrição.

João Pessoa viveu uma tarde histórica. Pela primeira vez, uma sala de cinema pública abriu suas portas para a exibição de um filme com Ad. "O tempo não pára", disse Cazuza em sua canção. Tarde histórica, mas com anos de atraso.

Atraso que marca também, o atraso da nossa indústria cultural, dos nossos políticos, dos nossos gestores em compreenderem a cultura como um bem de todos e que deve ser distribuído com igualdade de condições, com acessibilidade.

E antes que o relato vire um panfleto, parabenizo a Iguale pelo excelente trabalho realizado. E que venham mais produções com AD, nossa alfabetização no campo está apenas começando.

Joana Belarmino
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